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Do sustento à realização: a trajetória de uma cafeicultora no Norte Pioneiro do Paraná

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Nira Souza, cooperada da Capal, transformou a paixão pelo café em propósito e atua como liderança feminina no Norte Pioneiro do Paraná

Claudionira Inocência de Souza, 48 anos, é conhecida pelo apelido que carrega com carinho: Nira. Moradora do bairro do Matão, Tomazina/PR, e cooperada da Capal, ela representa a força de uma história que se confunde com a própria trajetória da cafeicultura na região.
 
 
Café que atravessa gerações
A ligação da família com o café remonta há mais de um século. “A minha família é pioneira aqui no bairro. Meus bisavós por parte de mãe chegaram aqui em 1915. Era tudo mato, e a gente acredita que em 1917 eles já estavam plantando os primeiros pés de café. Por parte de pai, ele sempre trabalhou como colono em fazendas de café. Depois que casou, veio para o Matão. Somos em 11 irmãos, quase todos permanecem aqui no bairro. Eu nasci aqui e até hoje estou aqui.”
 
Do sustento à paixão
A casa onde Nira nasceu fica “logo ali embaixo”, como ela diz, a poucos metros de onde vive atualmente. Permanecer no mesmo lugar não significa, porém, permanecer igual: o café se transformou ao longo do tempo, e com ele também mudou a forma como Nira se relaciona com a produção. O café, que começou como trabalho árduo e fonte de sustento, ganhou um novo significado ao longo da vida.
“No começo era só o sustento da família, um trabalho sofrido. Mas depois que meu pai deu um sítio para nós, minha irmã e eu, eu comecei a olhar diferente. A gente começou a gerenciar e eu comecei a gostar. Hoje eu digo: o café, para mim, é paixão. Antes era preço, hoje é valor. Antes era só sustento, hoje é realização.”
 
Com brilho nos olhos, ela compartilha o sonho que a move: “Eu quero plantar mais café. Já mandei fazer mudas, já preparei o solo, já fizemos análise. Eu quero ver o café crescendo, porque eu amo. Meu pai, com 80 anos, fala: ‘meu sonho é ter saúde para estar na roça com vocês’. Então eu digo: o café, para mim, é passado, presente e, se Deus quiser, futuro. O café é a minha vida, é a minha essência, é o meu sonho.”

A confiança no cooperativismo
A caminhada de Nira é marcada também pela crença na força coletiva. “Sempre acreditei no cooperativismo. Para mim, comunidade, associação, união... é isso que dá resultado. No meu vocabulário não existe ‘eu’, existe ‘nós’. Alguns de meus irmãos já eram cooperados da Capal e eu tinha vontade de me associar. Quando me tornei cooperada, aquilo foi muito especial, porque me senti vista como alguém capaz. Marcou muito.”
 
Aprendizado e inovação com a assistência técnica
Entre as transformações que o cooperativismo trouxe para sua vida, Nira destaca a importância da assistência técnica da Capal. “Hoje, com orientação técnica, é muito diferente. Hoje a gente faz análise de solo, vê o que precisa, não joga fora, não desperdiça. Isso é muito bom, a gente aprende. Não precisa repetir o que foi feito a vida inteira. Podemos inovar. Isso é gratificante.”

Liberdade e reconhecimento
Se a história da família é de dedicação, a trajetória pessoal de Nira também é marcada por conquistas no campo da autonomia feminina. “O conhecimento gera independência. É gratificante crescer como produtora e, ao mesmo tempo, como mulher. Sempre digo que o café me trouxe liberdade, e isso não tem preço. E quando estamos em uma cooperativa que também nos dá esse espaço, a importância é ainda maior. Antigamente, a mulher era quase invisível: era apenas ‘a esposa de’ ou ‘a filha de’. Hoje conquistamos lugar dentro da agricultura, com reconhecimento pelo trabalho que fazemos. Ser valorizada e respeitada não tem dinheiro que pague.”

Liderança no grupo Mulheres do Café
Além da produção, Nira também se dedica à união das cafeicultoras. Além de ser reconhecida como Embaixadora do Café em 2025, pelo concurso Mulheres do Café do Brasil, há anos ela é atuante em sua comunidade, coordenando o grupo Mulheres do Café – Norte Pioneiro do Paraná. “Aqui no Matão somos 23 mulheres envolvidas com a cafeicultura. É um número muito expressivo para uma comunidade. O projeto Mulheres do Café engloba 11 municípios do Norte Pioneiro, mas cada comunidade tem sua particularidade.

O Matão sempre teve um grupo grande de mulheres, e acreditamos que isso se deve ao fato de vivermos em comunidade. Temos essa facilidade da união, de nos juntar. A gente corre atrás dos sonhos juntas.”
 
Café, cooperativismo e futuro
Entre raízes históricas e sonhos para o futuro, a história de Nira mostra como tradição e inovação se encontram quando há paixão, união e valorização do trabalho de cada pessoa no campo.