SOJA: Nesta safra, produtor brasileiro está no lucro, enquanto o norte-americano depende de subsídios
A fase um do acordo comercial entre a China e os Estados Unidos foi firmada e oficializada na última semana, porém, sem trazer muitos detalhes para o comércio da soja entre os dois países. E enquanto ações efetivas não aparecem, a competitividade da soja brasileira segue mantida e ainda trazendo importantes margens de lucro ao produtor nacional.
Competitividade - A soja brasileira conta com uma vantagem competitiva sobre a dos EUA: o preço da tonelada é mais barato, entre US$ 10 e US$ 15. Mas a escala maior das vendas acaba compensando o valor mais baixo, como explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Superlativo - "Tudo no Brasil é maior agora, a escala é maior. A safra é maior, as exportações são maiores. Além disso, nossa soja é mais competitiva também porque temos maior disponibilidade de navios aqui e frete mais barato para a China, e nossa soja tem maior teor de proteína, o que faz com que seja necessário menos soja brasileira, por exemplo, para a produção de ração", explica.
Qualidade - Ainda segundo Brandalizze a oleaginosa do Brasil sai para a exportação com um teor de proteína de 46% a 48%, contra 42% da americana. E assim, o lineup brasileiro está cheio e com muita soja a ser embarcada nos próximos meses diante dessa competitividade maior.
Cenário - Além disso, 2020 começou com o Brasil com seus estoques praticamente zerados e os embarques ainda fortes. Segundo os últimos números da Secretaria de Comércio Exterior, os primeiros sete dias contabilizaram as vendas externas de 434,7 mil toneladas, com média diária de 62,1 mil. Ou seja, o Brasil "segue embarcando mais de um navio diariamente, o que indica que estes embarques em bom ritmo devem se manter e crescer nas próximas semanas com a chegada da safra nova. As primeiras indicações deste ano nos apontam que devemos bater a marca de 75 a 80 milhões de toneladas exportadas em 2020", calcula Brandalizze.
Compasso - Mais do que isso, o consultor explica também que "esta diferença que se vê agora entre a soja do Brasil e dos Estados Unidos nada mais do que é um valor de proteção. Os compradores estão mais retraídos agora esperando por saber o que acontecerá no comércio de soja entre a China e os EUA. O prêmio aqui no Brasil poderia estar melhor do que está hoje, mas não está por isso".
Margem - Ainda assim, a demanda segue presente e focada no mercado brasileiro. E também como diz Brandalizze, a soja tem dado de 5% a 25% de margem de lucro ao produtor, a depender de sua região. Nos estados do Centro-Oeste, por exemplo, as margens são de 5% ou algo pouco a mais do que isso, já nos estados do Sul, os níveis são mais altos onde há um favorecimento logístico e um volume menor de produto.
Proteção - Enquanto isso, nos EUA, o que impede que o produtor esteja amargando prejuízos mais severo são os subsídios pagos pelo governo Donald Trump diante da perda de demanda da nação asiática em razão do guerra comercial.
Futuro - Para o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira, “a soja brasileira continua sendo uma das mais baratas do mundo para embarque, isso levando em consideração que ainda passamos por um período sazonal de escassez do grão. Estamos na entressafra, a colheita deve ganhar mais ritmo nas próximas duas ou três semanas e aí, sim, teremos soja disponível. E é quando esses contratos para embarque irão delimitar preços mais atrativos do que a soja disponível e abundante que há no Golfo dos EUA. E isso se dá pela desvalorização cambial", diz.
Câmbio - Desde o início do ano até esta segunda-feira (20/01), a moeda norte-americana já acumula alta de 2,51% e valia, nesta primeira sessão da semana, R$ 4,1860. "Hoje o real é fraco frente ao dólar norte-americano o que dá muito poder de barganha ao importador que compra a soja em dólares. E essa é uma das razões pela qual nos mantemos tão otimistas quanto ao nosso mercado para exportação no Brasil", explica Pereira.
Preferência - Mais do que isso, o vice premier chinês Liu He, na cerimônia de assinatura da primeira fase do acordo com os EUA, reforçou a parte do texto em que a diz que a China assegura que irá fazer suas compras - incluindo os produtos agrícolas - de acordo com as condições oferecidas pelo mercado. "A China vai continuar liberando alguns pacotes de isenção tarifária para a soja norte-americana, mas desde que o Brasil tenha o produto mais barato, todo importador privado chinês continuará focado nas compras brasileiras. Ele não vai buscar a soja norte-americana sendo que ela custa mais do que a disponível no Brasil", completa Pereira. (Notícias Agrícolas)